Estive recentemente nos EUA e como uma gordinha incontestável que sou, boa parte dos meus “must go” são restaurantes, comidinhas de rua, botecos, tudo quanto é lugar onde se possa comer ou beber bem. Já saio daqui com muitas indicações em punho, vindas principalmente de pessoas que confio (as melhores), chefs, sites, jornais e revistas especializados. E toda indicação é sempre checada, para não cair em roubadas.
Dessa vez inclui na minha lista alguns estrelados e um deles
foi o COI, em São Francisco, do chef Daniel Patterson , que diferentemente das
outras indicações, foi pinçado (exclusivamente) da lista do 50 Melhores, da San Pellegrino World’s Best Restaurants.
Estive lá, comi, bebi, conheci o chef, vivi a experiência como
vou relatar logo mais e comecei a pensar sobre minhas próprias conclusões e
sentimentos em relação aquilo tudo. Até que, passeando pelo Gastrolândia
encontrei um lindo texto da Ailin Aleixo, uma obra prima, postado no inicio de
março que por um momento achei que tinha sido
escrito pra mim, tamanha a minha identificação.
(corre lá pra entender do que eu estou falando: “A chatíssimaera das listas e dos caçadores de restaurantes premiados)
Falemos primeiro da experiência no Coi então, e já chego lá
no link com o texto da Ailin.
Coi, aberto em 2006, é o restaurante de Daniel Patterson. Um
chef que segue a linha de ultra-valorização de ingredientes frescos e locais,
unindo a modernidade sem perder a regionalidade. Faz parte inclusive do projeto
Cook it Raw , juntamente com os maiores nomes da gastronomia mundial,
recentemente divulgado pelo nosso Alex Atala.
(entenda mais sobre o Cook it Raw
aqui).
Detentor de 2 estrelas no Michelin Guide e na posição #58
da San Pellegrino World’s Best Restaurants List, fazer uma reserva no Coi já
não é algo simples mesmo com as facilidade do OpenTable. A reserva só é feita
mediante a apresentação de um número de cartão de crédito e é checada e
confirmada pela equipe poucos dias antes da data. Fui questionada sobre
alergias, restrições alimentares e em qual dos salões eu preferia me sentar
(fofo!).
O Coi só trabalha com menu degustação, 11 passos por U$165,00
e ainda com duas opções de harmonização de vinhos, a com 6 vinhos por U$65,00 e
a com 11 vinhos por U$105,00. Optamos pela primeira harmonização, o que mais tarde não se mostrou uma boa idéia.
Ambiente sóbrio, elegante, mas sem excessos ou
interferências, para valorizar ainda mais a experiência.
O serviço seria impecável se fosse em português. Rs. Mesmo
falando a língua (inglês), muitos detalhes ainda me escapavam nas explicações dos
pratos. Tirando essa gafe (do restaurante, claro! Rs.) tudo fluiu perfeitamente
bem.
Começamos com um tira-gosto que pelo que entendi era uma
espécie de mandiopã de arroz, com um creme de avocado. O dia que eu desgostar
de mandiopã me internem.
A primeira entrada era chamada de Earth & Sea (rodela de tofu mergulhada em uma “salmoura”, ovas de peixe e flores comestíveis). Uma combinação perfeita, uma vez que o tofu tem aquele gostinho de...nada...o que fez harmonizar perfeitamente com o sabor marcante das ovas, ambos com suas texturas marcantes.
Seguimos para o Beets (beterraba, tangerina, folhas de menta, flores). O que posso dizer dessa beterraba? Que estava correta? Divina? Saborosa? Linda talvez. O prato era bem charmoso em sua apresentação, mas ainda sim era be-ter-ra-ba. E adocicado da beterraba com a menta chegava a quase ser uma sobremesa de tanto doce e frescor.
Chegou o Aspargus/ Oyster ( aspargo, ostra e molho de alguma
erva) que nos deu um ânimo a mais. Ostra né, baby! A ostra estava gorducha e
deliciosa, com uma geléia de limão (como não poderia deixar de ser), o aspargo tenro, mas não me
identifiquei com o creme verde que tinha um sabor forte de grama.
Partimos para o Chicken Wing (frango, lagostin, pimenta). Frango de textura ultra macia e úmida, que remetia a uma versão daquela canja da sua avó, mas muito melhor executada.
Seguimos com o veggie Young Carrots Roasted in Hay ( cenouras, feno grego, rabanete, pecorino). Um prato rico de sabores e texturas onde o adocicado da cenoura sem encontrava com o aveludado do queijo e a leve ardência do rabanete, com a textura e leveza do broto de feno. Um prato bastante rico.
E chegamos ao ápice no Fried Egg -Not Fried (ovo, mostarda,
couve-flor, ervas), que foi apresentado justamente assim “Ovo frito, não
frito”. Colocou ovo no prato, ganhou meu coração, baby!
Ele vinha num bowl um tanto grande pro conteúdo, bem no meio
um ovo (praticamente só a gema), sob uma caminha de folhas de mostarda,
couve-flor, e farofa crocante de pão defumada por cima, contornado por uma
emulsão de claras e ervas.
O ovo era um espetáculo a parte, de textura nunca dantes vista.
Não era cozido, não era molê, pochet, nem frito de gema mole, nem nada que eu já tenha provado. Lembrava um
quindim derretendo...em câmera lenta. Um primor. Prato
completo (e complexo) em sabores e texturas, queria pedir outro.
E a próxima proteína foi o abalone (molusco que vive nas águas do Pacífico), Monterey Bay Abalone (baby cebola, brotos de ervilha). De cocção perfeita, macio, com leve sabor de grelhado, com cebolas e brotos de ervilha, muito mais saboroso que muitos primos moluscos que temos contato.
Finalizando os pratos salgados chegou o Aged Duck Cooked On
the Bone (pato, flor de cerejeira, nabo e estragão). O peito do pato curado,
suculento e macio completava a crocância
do nabo e a doce picancia do estragão, completando a seqüência de proteínas.
A sobremesas começaram com Strawberries que vinham com pequenas ervas e recobertos por uma espécie de calda brilhante e levemente adocicada, como um verniz dando brilho àqueles morangos perfeitos. Uma delicadeza de sobremesa, mas sem grandes novidades.
Seguimos com Whipped
Coconut (azeite, ruibarbo, blood Orange). Essa sim era provocadora, coisa que
faltou nos morangos. Um sorvete levíssimo de coco, sob suco de laranja vermelha
e no topo azeite de oliva com folhas de ruibarbo. Inusitada, cítrica e
aveludada.
E terminamos com o Spice Cake (tâmaras, yogurt, gergelim). Um bolinho úmido, super condimentado, recheado com um creme azedinho e gergelim.
Ao fim da experiência recebemos um envelope com o menu para recordação (um mimo!) e a conta na mesa: astronômicos U$600,00/ casal.
E quando tudo terminou naquele restaurante uma “certa” corrente
de pensamentos retomou. Sim, porque por mais que tentei, não pude evitar de
pensar muito enquanto saboreava os pratos.
No meio da experiência conhecemos um simpático peruano
aspirante a chef e eu, um pouco confusa com a minha visão que se formava, quis
entender a dele. E ele foi exatamente no meu ponto, sem nem saber. Que fique claro que contrariamente do relato da Ailin Aleixo sobre
a experiência dela num estrelado em Bangcoc, onde houve deslizes, nosso jantar
foi impecável.
Todavia, se mostrou uma experiência com muita expectativa
envolvida e uma boa pitada de decepção, onde se reconhece a maestria daquele
chef, da técnica, da habilidade e sua meticulosidade. Uma experiência na qual se
compreende o comprometimento de Daniel Patterson com os ingredientes de
primeira qualidade e da sua valorização de produtos da região. Mas que não te
faz AMAR, não te faz VOAR e que não se faz inesquecível.
Dos 11 pratos que provei, com certeza 2 conquistaram meu
coração (o ovo e o abalone) e se tornarão imemoráveis. Assim como a conta.
Vale?
Depende. Em pensar que toda experiência é valida, mas a
contar pelo preço dela, fico bastante duvidosa.
O grande ponto disso tudo é que ninguém me disse “vá ao Coi,
pois vale a experiência”. Logicamente, que mesmo que eu tivesse essa indicação,
ainda existiria o risco na diferença de percepção da experiência que cada um
tem. Ou seja, nada é garantido.
Eu fui, pois encontrei o nome dele numa lista que julgava crível
e segura. Listas essas que como diz Ailin “são um tremendo coringa”, mas que
escondem uma armadilha. E que muitas vezes excluem alguns bons e incluem outros
não tão bons.
A mania do homem em classificar, crias listas, grids, prêmios,
esbarra na individualidade e preferencias de cada um. Assim como Roberta
Sudbrack esta na mesma lista que Patterson e Atala (San Pellegrino) fui
imensamente mais feliz no D.O.M., no Mocotó de Rodrigo Oliveira e no Dui/ Clandestino da Bel Coelho (os dois últimos sequer figuram nessa lista), do
que no RS da Roberta. Assim como posso facilmente não gostar de um vinho caríssimo,
exclusivo e altamente pontuado por Robert Parker e amar aquele chileno que cabe
tranquilamente no meu bolso.
Pois cada um tem critérios e pesos diferentes para criar a
sua avaliação da experiência. A questão toda não é quanto se paga, mas o preço
tem sim seu peso no resultado final.
Não é o caso do Daniel Patterson, que merece sim figurar em
listas. Mas o que quero dizer é que, para esse tipo de experiência onde o
investimento financeiro envolvido é altíssimo (e eu ainda não sou milionária), assim como a expectativa, não se pode confiar simplesmente
numa lista. Daniel faz um excelente trabalho, mas não é o que me faz feliz. E
pagando 600 dólares num único jantar, eu espero ser MUITO feliz, se é que me
entendem.
O Coi foi uma experiência única, mas não vai entrar para
minha lista “Top 5”. Enquanto alguns lugarezinhos, em Napa Valley - CA, pitorescos sem tanta pompa, com muito menos investimento, jamais sairão da minha memória e do meu coração.
Coi
Coi
373 Broadway
San Francisco, CA 94133
Tuesday - Saturday : from 5:30pm - 10pm.
(415) 393-9000
San Francisco, CA 94133
Tuesday - Saturday : from 5:30pm - 10pm.
(415) 393-9000
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