Roberta é conhecida por valorizar ingredientes brasileiros e valorizar a simplicidade de alguns como o chuchu e o quiabo. Conhecer o trabalho dela era o meu atual sonho de consumo. E lá
estávamos nós, indo para o Rio de Janeiro e decidimos: parada obrigatória. Com a reserva
feita, rumamos famintos para lá numa quinta-feira à noite.
O restaurante é um sobrado adaptado, por fora é um casarão vermelho-laranja e por dentro o salão é pequeno, devendo ter de 6 a 7 mesas apenas e um balcão. O andar de cima abriga uma grande mesa comunitária, para 18 pessoas. Fomos recebidos por um garçom com um molho de chaves para abrir o portão que se mantém sempre trancado, controlando a entrada de clientes.
Tive a impressão que a decoração um dia teve algum requinte,
mas que acabou se desgastando com o tempo e hoje parece um pouco abandonada. As
mesas de madeira parecem gastas e as cadeiras de couro vermelho perderam o
brilho. O ambiente tinha um aroma marcante, que misturava o cheiro do plástico
do toldo, mofo e o camarão que fazia parte do menu. Não me agradou e me
incomodou a noite inteira. Tenho uma ligação grande com cheiros e sei que sou crítica e exigente nesse aspecto, mas reconheço o poder
da memória olfativa e preferiria não carregar esse cheiro na minha experiência no
Roberta Sudbrack.
O menu é super restrito e optamos pela Experiência de 5
passos. Para acompanhar pedimos um vinho italiano da região de Piemonte, um
Moccagatta Dolcetto d'Alba – 2009 (R$195,00). Nada mau, mas nada espetacular
também.
De couvert fomos contemplados com mini pães quentinhos
acompanhados de manteiga da casa. Em seguida nos trouxeram os primos finos franceses
do nosso pão de queijo, os gougères, feitos com queijo gruyère. Muito mais leves, eles
quase sumiam na boca. Juntamente com os gougères vieram mini salaminhos, que a
chefe sugeria para serem comidos com as mãos.
De cortesia chegou à mesa dentro de uma encantadora
marmita de alumínio, um Mandiopã caseiro. Ahhh, infância! Lembrança gostosa
daquele salgadinho que no mesmo momento que era jogado no óleo quente aflorava
como uma pipoca.
Crocante, sequinho, com flor de sal e mais alguma coisa
em cima que lhe competia um sabor indecifrável.
De entrada eu escolhi a Brandade de Bacalhau com Natas.
Bacalhau desfiado, gratinado e servido em uma panelinha de ferro. Delicioso e coberto
por cubinhos exatos de pão ultra-crocante. Toque de gênio esse topo de pão!
O Fernando optou pelo Camarão Alla Plancha, que veio com
um caramelo picante e brotinhos. Rosado, cozido no ponto, macio e saboroso. Um primor
de camarão.
Seguimos com o Pargo com Vinagrete de Maxixe. A posta de
peixe estava úmida e salgada por igual de forma artística. E o sabor do
pargo...era puramente pargo. Como se uma poção mágica multiplicasse o sabor do
peixe. O vinagrete picado geometricamente perfeito e acompanhado com uma
farofinha de broa de milho fazia escorrer uma lágrima dos olhos. Coisa dos
deuses.
O segundo prato era um Arroz de Cordonizes, com lascas de
codornas úmidas e linguiças picantes. Mais me agradou a linguiça apimentada e de sabor único do que a
própria codorna. Um prato bem feito, bem confeccionado, mas sem grandes
surpresas.
Seguimos para o último prato que era um Cordeiro de leite em “baixa temperatura caseira” acompanhado de Chantilly de Batata.
Seguimos para o último prato que era um Cordeiro de leite em “baixa temperatura caseira” acompanhado de Chantilly de Batata.
O cordeiro estava impecável, de textura e maciez inéditos pra mim. Faca ali era pra cumprir tabela, pois com apenas o toque do garfo o cordeiro se desmanchava. E apesar do cozimento, na boca todo o sabor forte do cordeiro continuava presente, saboroso e amanteigado. Posso até ousar que nunca provei um cordeiro tão bom. Já o chantilly não passava de um purê de batatas sem grandes delongas.
Para limpar o paladar foi nos servido um queijo, que
confesso não vi muita graça, nem na laranja kinkan (que não me agrada), nem na
broa de milho caseira. Longe de serem ruins, mas realmente não empolgaram.
A sobremesa, sim. Essa sim me fez feliz! Um Tartelette de
chocolate com licuri (* espécie de palmeira brasileira que dá frutos) de tirar o fôlego.
Comi gemendo e só faltou lamber o prato. O interior era de uma calda chocolate pelando como gosto e de chocolate pouco doce. Acompanhado de uma calda suave, divina, de chocolate branco acidificado e aquela farofinha de licuri que dava o toque original e brasileiro, como a Roberta quer.
O café veio acompanhado de um tabuleiro de docinhos diversos, um colírio para os olhos.
...de marrom glacê a doce de leite e rapadura. |
Os pontos altos do jantar foram sem dúvida o Pargo e a Tartellete
de Chocolate. As entradas, tanto a de bacalhau, quanto a de camarão também nos
convenceram bastante.
Fernando e eu já tivemos grandes experiências gastronômicas
e temos uma boa base de comparação, não que nosso intuito seja comparar
comidas, chefes ou estilos. Porém algumas coisas são meio que padrão, como
ambiente (cada um com sua característica) e atendimento. De uma forma geral temo
que nossa expectativa tenha sido maior do que nossa experiência.
O ambiente não nos agradou muito, o lugar, a decoração,
mas foi o cheiro que marcou pontos negativos comigo. Obviamente que um ambiente
não dita regras quando se fala em comida, mas expressa sim alguma coisa.
O atendimento escorregou ao abrirem o vinho errado para
nós e ao nos entregaram os pratos sem o mínimo de explicação. Questionamos por
duas vezes o garçom para entendermos mais o que a chefe nos preparou, pois não
estávamos lá para simplesmente comer, nós queríamos saber quem era Roberta
Sudbrack através dos seus pratos. Antes que questionássemos de novo, o garçom
nos trouxe gentilmente o menu “para que acompanhássemos o jantar”. Menu esse que não
explicava nada, só demonstrava uma falta de boa vontade do atendimento em nos
contar, por exemplo, do que era a farofa que acompanhava o pargo.
Até um valet que não te fornece qualquer comprovante, que
pára seu carro na rua e te cobra 10,00 reais por isso, também conta no todo da
experiência.
Em minha opinião, a chefe Roberta Sudbrack cumpre sua
proposta gastronômica, utilizando-se de ingredientes brasileiros e fazendo uma
gastronomia de alto padrão. Mas como dizia Alex Atala “eu não vendo comida, eu vendo
experiência”, eu esperava isso dela. A experiência gastronômica do RS, que
engloba muito mais do que pratos e ingredientes, torna-se incompleta apartir do momento que paga-se muito para encontrar alguns pontos-contra.
Fernando saiu decepcionado. Eu não. Optei por
valorizar o que a chefe sabe fazer melhor e isso é indiscutível. Mas confesso
que somos talvez um pouco exigentes em relação a tudo, vivemos experiências
mágicas e era o que eu esperava do RS. Não foi exatamente mágico como gostaria, mas deu muito bem pra
reconhecer o trabalho dessa talentosa chefe e deu pra compreender porque tanto falam nela. Não é a toa.
No fim é muito mais uma questão de dinheiro, de custo x benefício. Para o que pagamos por lá eu diria que tudo deveria ser muito mais redondo, sem arestas no atendimento, sem arestas no ambiente. Um pouco mais de ousadia também me faria feliz, mas isso é questionável dentro de cada proposta. E a maestria com que Roberta confecciona sua arte supera isso.
No entanto se você é fã de gastronomia como eu e já ouviu falar da Roberta Sudbrack, sem dúvida você precisa viver a SUA experiência por lá. Mas faça sua reserva.
E quanto ao preço da nossa experiência...mais informações pelo email mariana.ushli@gmail.com
=)
Roberta Sudbrack
Rua Lineu de Paula Machado, 916 - Jardim Botânico
Rio de Janeiro - RJ
Fone: (21) 3874-0139
A palavra decepção, apesar de forte, foi exatamente como me senti... Na verdade o tamanho da decepção é proporcional ao tamanho da expectativa!
ResponderExcluirÉ impossível não dizer que fui ao RS com a expectativa alinhada com os melhores restaurantes do Brasil, e com esse set point ajustado tão alto o resultado definitivamente não foi atingido! E o lance de termos ido para vivermos uma experiência nova também é decisivo, e o conjunto nem de longe chegou lá!!!