04 novembro, 2011

Eu, você e o bife.

Em um grupo de pessoas à conversar, comumente rola um random de assuntos, que vai da discussão acalorada sobre futebol, passando por assuntos atuais do cotidiano e dependendo da amizade da turma acaba caindo até em intimidades, flatulências e hábitos de péssimo gosto. Costumo até dizer que das duas, uma: ou o papo acaba em merda, ou em sexo. Pode reparar.
E não raro, rola o tema comida na roda de linguarudos, ainda mais quando a comilona mor está presente. No caso eu.

No GNT uma nutricionista apresenta um programa chamado “Você é o que Você Come”, onde ela avalia hábitos alimentares de uma pessoa ou família acima do peso. Esse texto nem de longe se trata sobre peso, dieta, regime e alimentação saudável, mas o gancho está nesse clichê-rei que dá nome ao programa.

De tanto falar de comida com tanta gente fui observando alguns padrões de pessoas e cheguei à conclusão de que o que você come, ou deixa de comer diz bastante a seu respeito. Não é uma teoria, tampouco um teorema. Não tem provas cientificas, não foram analisados milhares de dados, não foram realizados testes em laboratórios, nem relatórios comparativos. É só o meu achismo. E pega leve, porque eu não sou chef, nem psiquiatra, nem psicóloga especializada em comportamento social. Sou den-tis-ta. Dentista, enxerida e boa de garfo.

Uma pessoa interessante pra mim, pode não ser pra você e normalmente busca-se no outro uma afinidade, uma semelhança de pensamentos e gostos. Quanto mais similar a você, maior o interesse. Pra mim não funciona tããããooo assim. O que me difere, muito me intriga e me interessa. Aquela coisa de “somar” sabe?! Mas dentro de semelhanças e diferenças, tem um ponto que conta muito na minha avaliação pessoal dos outros (não que isso valha alguma coisa pra você que tá lendo): comer.

Sabe por que dieta pra mim não funciona? Porque eu não como por fome, nem por necessidade. Me ensina a comer direito e eu vou comer...o direito E o errado. Se me der remédio inibidor de apetite, eu vou comer mesmo assim por vontade, por prazer.  Não tem disciplina que vença a minha felicidade em comer.
E pra piorar eu casei-me com alguém igual a mim. E com certeza, isso não foi uma coincidência, nem um acaso. Fernando ganhou muitos pontos comigo por ter uma relação linda com a comida. O meu companheiro de vida TINHA QUE ser assim.

A vida em torno da comida pra mim é muito mais feliz. A cozinha é o melhor lugar da casa e os restaurantes são os melhores programas. Revistas de gastronomia são as mais interessantes e se eu viajo, a minha melhor pesquisa envolve comer bem no meu destino. Amor, amigos e comida. Vivo disso.
Qual o minha comida preferida? A bem feita. Meu coração falha uma batida quando vou a restaurantes de chefs renomados conhecer suas criações. Do chic ao simples, o que vale é a comida. Meus olhos brilham, quando vou na minha sogra ou na minha mãe pra um almoço que sei que não só foi feito por mãos hábeis, mas com o cuidado de cozinhar pra que GOSTA da coisa. Minha felicidade é se reunir em casa com amigos, abrir um vinho e cozinhar em grupo, ou abrir uma cerveja num dia quente pra fazer um churrasco.

Outro dia tava assistindo um programa desses de culinária e mostrava um casal apelidado de “Casal Marmitinha”. O cara não comia absolutamente nada diferente de arroz-bife-batata-frita. Se eles saiam pra almoçar/jantar na casa de amigos, ela preparava e levava a marmitinha dele. (?????)

Da licença, mas eles são escrotos. (eu posso fala "escroto" aqui no meu blog, já que liberaram até pra ser falado na novela das nove).

Na minha mente, esse cara tem sérios problemas que ele precisa resolver. Restrições alimentares NESSE nível não são normais e ele PRECISA de ajuda nessa vidinha tosca dele. E essa mulher? Ela acha fofo fazer a marmita dele? No fim ela incentiva isso em vez de tentar mostrar que outras opções também podem ser interessantes. Eu no lugar dela MORRERIA de vergonha dele. E seria uma luta diária para abrir essa mente engessada. E óbvio, que jamais daria certo comigo. Como admirar alguém que só come isso? Uma pessoa mimada dessas? Vai tão além de comida...Me dá asco.
No fim do programa o cara que odiava peixe comeu, sem saber, um picadinho de atum, achando que era carne e lambeu os beiços. Tem ou não tem que ver issaê?

Pra mim é simples: não julgue uma comida pela aparência, ou pelo que ela é sem antes ter provado. Tem gente que empaca com texturas (eu mesma), mas só dá pra fazer esse julgamento depois de provar também!


 Não "concrete", "cimente" seus gostos, fique aberto a novos sabores e se não te agradar muito na primeira vez, tente de novo numa outra oportunidade, às vezes é uma questão de hábito, de se familiarizar com o novo ingrediente.
Não julgue. Não comemos cachorro por aqui por uma questão de cultura só, assim como nosso bife é mantido como deus na Índia. (eu provaria carne de cachorro)
E não seja fundamentalista, não me diga o que eu devo ou não comer. Adoro saladas e pratos vegetarianos, mas não existe motivo, razão ou ideologia nesse mundo que me convença de que comer carne não é uma boa idéia.

Eu acho feio quando alguém traz marmita na minha casa por não comer o que está sendo oferecido. Feio e desrespeitoso. Não vá, ou vá comido. E nem vou comentar daqueles que não trazem marmita, mas pedem pra fazer um “macarrãozinho básico”.
Eu acho feio um vegetariano querer dar pitaco num churrasco. Não é tua praia! Ou não vá, ou se encha de verduras e legumes na sua casa e vá curtir o social só.

A verdade é que pessoas com restrições alimentares em excesso me cansam. Os programas se restringem e o meu interesse por elas também. Ninguém tem que comer absolutamente de tudo. Manga e mel eu não suporto nem o cheiro.
Mas como posso admirar alguém que diz não gostar de lula sem nunca ter experimentado? Como posso admirar alguém que não come algo por preconceito? Não posso.
Só se fala em preconceito racial, sexual e o pobre do preconceito gastronômico ninguém dá a mínima. Pois eu dou.


bife
Ta vendo esse prato lindão? Essa carne apetitosa? Qualquer um aqui comeria dela e lamberia o prato no fim. Mas a grande maioria torceria o nariz com nojinho ao saber que é língua, mesmo depois de provar E gostar.

Meus pais me ensinaram a comer de tudo e a experimentar de tudo. Me me ensinaram a ter educação. Se eu não gosto, ninguém tem nada com isso. E vai ser assim com meus filhos.
Sei que nada disso vai mudar a vida de ninguém, mas a verdade é que a forma que você se relaciona com a sua comida, diz muito sobre você...você querendo ou não. E pode jogar contra você.

Um comentário:

  1. Acredito que respeitar as diferenças também faz parte da nossa educação! Mas diferente das pessoas que não respeitam as diferenças enxergam o que estão fazendo ou desrespeitando! Eu não tento convencer ninguém de ser vegetariano, mas também não quero ser convencido de suas preferencias ou crenças!

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