O meu conceito de chuva era o que descrevi em O que sabia sobre a chuva... E pra sobreviver em São Paulo, na chuva, tinha que ser assim.
As coisas mudam...
Taubaté é perceptivelmente mais quente que São Paulo. Não entendo muito de topografia, mas tenho a impressão que o fato de ser localizada num vale e ser predominantemente plana, ressalta essa diferença de temperatura.
O Sol aqui não brilha, o Sol castiga. Pelo menos pra mim, que gosto do frio e que sou "branco-polaca".
É muito comum ver pessoas se protegendo com sombrinhas. E eu que achava que isso era hábito de cidade de interior, percebi que é hábito de uma cidade muito quente. E até eu mesma já pensei em usar uma...
Eu não posso trabalhar de sandália ou rasteirinha, não posso trabalhar de bermuda, saia ou vestido. Eu não tenho uma piscina em casa, e a minha pele vive em atritos com o Sol. Fica difícil gostar desse calor todo.
E foi assim: de repente me vi agradecendo aquele pé d água que desabava do céu.
Notei que eu não dava mais a mínina pro trânsito que ia se formar com a chuva... Hã? Que trânsito?
E que eu não pensava mais que caminho eu faria pra desviar do bairro que alagou... Oi? A cidade é plana e tem “verde” o suficiente pra escoar e absorver a chuva. Não alaga.
Não me estressava mais com meu cabelo que ia molhar e estragar a escova. Que escova? Não, meu cabelo não ficou liso depois que mudei pra cá, eu é que me libertei dessa escravidão!
E tudo que eu desgostava da chuva foi escorrendo, escoando e foi sendo levado pela enxurrada de coisas boas que eu sentia quando chovia.
Naquele sábado de manhã que planejávamos ir ao mercadão comprar nossos ”hortifrutis” fresquinhos,
agradecemos pela garoa que caía. E não mudamos nossos planos, antes a garoa do que aquele sol ardido.
E a nova conotação de chuva foi se formando nos meus conceitos. E mesmo quando o Sol já não incomodava mais cedendo o lugar a Lua, eu deitava na cama no quarto escuro e ouvia a chuva bater no telhado. E dormia feliz.
Em uma noite dessas voltei a ser criança. Já era mais de nove horas quando sai com o Fernando para andar de bicicleta pela cidade e fomos surpreendidos por uma chuva torrencial de verão. Não paramos nem nos protegemos. Pedalamos até em casa debaixo de chuva forte, pelas ruas e avenidas quase vazias. Tomamos aquela chuva do início ao fim. Uma chuva que me fez compreender a expressão “lavar a alma”. E que me fez sentir a sensação maravilhosa de se entregar a uma chuva, que eu não sentia desde que era criança. Sensação que eu não lembrava mais que existia, pois cresci e aprendi a desgostar de algo tão bom!
Para quem participou desta "noite de criança" fica difícil não comentar!!!
ResponderExcluirEu não sei para as outras pessoas que leram este post, mas posso dizer que me senti de novo naquele momento... Muito bom!